sexta-feira, abril 18, 2008

Deixa-me sossegada a ser só uma miúda...



Lembro-me de ser mais nova e acreditar que os adultos tinham uma espécie de dispositivo que era accionado quando passavam a ter as responsabilidades e as chatices inerentes ao seu novo estatuto. Olhava-os no meu canto e via seres mergulhados em trabalho que há muito tinham deixado de se preocupar com as pequenas coisas da vida... Olhava-os e via seres frios, demasiado racionalistas para serem humanos, demasiado sérios e conscientes do seu papel para conseguirem recordar-se de algum dia terem sido outra coisa que não adultos. Olhava-os e sabia que não queria ser como eles.
Tenho 29 anos e espero sentada no chão frio da casa de banho o resultado de um teste de gravidez. São os 3 minutos mais longos da minha vida... Se fumasse, era uma boa altura para fumar um "pensativo cigarro". Limito-me a roer as unhas. Tenho 29 anos, estou sentada no chão frio da casa de banho do restaurante onde trabalho, tenho a mão tremula na barriga e os olhos inquietos presos no relógio e penso: "Como é que eu vou ter dinheiro para isto... fraldas, leite... E quando ele crescer?" Tenho outra vez 13 anos e ouço as preocupadas palavras da minha mãe ao meu pai sentados à mesa: "Não vamos ter dinheiro para pagar a universidade deles, se as coisas não melhorarem..." O meu pai olhava para nós, encolhia os ombros e esboçava um sorriso num resignado "Esta mulher..." Tenho outra vez 13 anos e acho estúpido a minha mãe estar preocupada com uma coisa que ainda vai demorar tanto tempo para acontecer...
Olhava-a e sabia que não queria ser assim...