segunda-feira, agosto 24, 2009

Por um fio...



Cansada de falhar, uma e outra vez, não por culpa sua, entrega-se, vencida, e desiste de lutar pelo que quer que seja, desiste de sentir... Cloto começou a tecer o fio da sua vida num dia pouco afortunado...

Enquanto Láquesis se diverte a enrolar o fio da sua vida, já tecido na Roda da Fortuna, ela tenta recompor-se, uma e outra vez, de cada golpe que a Sorte lhe disfere. Espera poder ser ela a decidir, sem compreender porque tudo lhe foge entre os dedos, desejando apenas ser dona do seu próprio destino. E quando parece que tudo está no seu devido lugar, quando a Sorte parece decidida a dar-lhe o que ela realmente merece, o fio da sua vida deixa de ter um lugar privilegiado no tear e tudo volta ao início...

Cansada de chorar sempre as mesmas lágrimas, vive à mercê do atribulado humor das fiandeiras, à espera que deixem de se divertir com as suas quedas. A custo, volta a erguer-se, uma e outra vez. Podem fazer da sua vida um verdadeiro joguete, podem usá-la como uma marioneta inerte e apática, mas não a podem impedir de voltar a levantar-se. Enquanto Átropos não cortar o fio que a une à vida, continuará a erguer-se, agarrada a uma réstia de esperança... Um dia, vai ser ela a decidir...

segunda-feira, agosto 17, 2009

"Nódoas negras sentimentais"


Todos nós temos marcas deixadas por contos de amor sem final feliz, histórias mal resolvidas ou que nunca chegaram a começar. Há quem coleccione pequenos hematomas sentimentais, que desaparecem passado algum tempo. Muitos sofrem com a dor causada por verdadeiras feridas incisas, que, por vezes, deixam profundas cicatrizes. Há também quem se queixe de verdadeiras fracturas expostas, de cheiro pútrido, que nos perseguem durante anos sem cicatrizar. Estas são as mais difíceis de curar. E passados uns anos, quando pensamos que já recuperámos, voltamos a sentir a mesma dor lancinante, que nos faz cerrar os pulsos e tentar aguentar, calados, aquele sofrimento tão familiar e indesejável.


Eu tenho algumas cicatrizes que fui coleccionando ao longo dos anos. Umas profundas, outras quase superficiais, no entanto, lembro-me o que causou cada uma delas. Lembro-me de cada marca, cada golpe, cada queda... São bem diferentes daquela cicatriz que tenho no joelho; lembro-me dela desde sempre, mas já não sei como nem porquê ela apareceu. Perguntei à mãe, e ela também não se lembra: "Sei lá eu! Andavas sempre a magoar-te!" Destas, eu lembro-me de todas, sem precisar que ninguém me lembre porque raio anos depois ainda dói...
- Parece que continuo a magoar-me com muita frequência, mãe.
- Deixa lá, filha. Isso passa, passa sempre.
- Já estou demasiado danificada para tentar "sarar as feridas e recomeçar"...

S.M.