quarta-feira, junho 03, 2009

Quase, quase perfeito...




Olhou para dentro de si mesma e viu raiva, angústia e medo. Viu sangue e escuridão. Viu rancor e lágrimas. Lágrimas que chorara num passado longínquo, tão longínquo que mal o recordava, apesar de ainda sentir o sabor das lágrimas na sua alma, ainda sentir a dor que lhe dilacerava o ser, perdido e decrépito entre gastas mortalhas. Quis sair de si e falar-lhe, quis gritar-lhe que não se fosse... Quis tocar-lhe e senti-lo dentro de si. Quis olhá-lo nos olhos e sorrir-lhe, mas ele já lhe tinha virado costas, já tinha abandonado à pressa todos os recantos secretos que só a eles pertenciam.
Recordou-o e lembrou-o cobarde demais para ficar ao seu lado, lembrou-o perfeito demais para simplesmente se deixar levar pelo que sentiam. Não lhe chegava o que ela lhe dava. Não lhe chegava o que ela nunca lhe exigiu. Queria mais, queria sempre mais.
Sabia-o correcto, mas não o queria deixar ir. A sua altivez consumia-a, tornava-a pequena e exígua, frágil e efémera. Debatia-se para lhe dizer adeus, mas sentia já a sua ausência alojada em si, sentia medo da solidão que a ameaçava como um espectro real.
Não fossem as suas frívolas vontades e desejos, as suas futilidades e interesses cobardes, e ele era quase, quase perfeito...

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